1. Mesmo quando é para "elogiar" a mulher, o machismo estrutural de nossa sociedade é agressivo. Hoje nós vamos abordar uma aparente tentativa de "elogio" do machismo estrutural à mulher e, em especial, à sua "beleza"... mas, não nos ilu
- Mesmo quando é para ‘elogiar’ a mulher, o machismo estrutural de nossa sociedade é agressivo. Hoje nós vamos abordar uma aparente tentativa de ‘elogio’ do machismo estrutural à mulher e, em especial, à sua ‘beleza’... mas, não nos iludamos com as aparências: esta regra é primordial para entendermos o machismo de nossa sociedade – há muito dele por trás do elogio que vamos estudar. Nossa aventura vai partir de uma breve investigação sobre um ‘Concurso de Miss’.
- O problema é que o machismo estrutural não parece (ao menos à primeira vista do senso comum) agressivo. Para o olhar descomprometido com a crítica, ele – de fato – nem sequer aparece. O que aparece é o que se entende por ‘normal’, por cotidiano, as coisas da vida. Vou explorar neste texto um pouco sobre essa ‘normalidade’, por meio da análise crítica de discurso de alguns excertos tirados de um edital de concurso de Miss Cidade – Qual cidade? Sinceramente, aqui, pouco importa, pois o que analisaremos não é sintomático desta ou daquela cidade e sim pode ser entendido como um elemento estrutural de nossa cultura. Vamos lá?
- O edital tem como objetivo apresentar “as regras que deverão ser observadas pelas candidatas interessadas em participar do Concurso [...], as quais deverão ser lidas e aceitas no ato da inscrição para participação do concurso”. Esse edital traz, então, os pré-requisitos que, caso queiram participar do concurso de beleza, as mulheres deverão obedecer – sob pena de desclassificação, pagamento de multas e cumprimento de outras penalidades. É um dispositivo de produção de subjetividade que nos mostrará o que é que uma mulher que deseja ser vista como referência da beleza (entendida como tal em nossa sociedade estruturada pelo machismo) deverá fazer para lograr tal êxito. Em síntese, o que o edital nos diz? É preciso obediência, para ser considerada bela...
- Duas questões semânticas:
- Uma palavra sobre ser ‘candidata’: o elemento de composição cand- em latim tem, etimologicamente, o sentido de “ser alvo, branco como a neve” entre outros significados. Cand- tem, igualmente, sentido moral de 'pureza, candura, candor’: é daí que temos candìdus,a,um 'branco, alvo; radiante, resplandecente; puro; venturoso', e candidátus,i 'candidato, esp., aquele que veste a toga branca para postular um cargo público', daí candidátus,a,um 'que veste branco' – ou seja, uma ‘candidata’ é a pessoa que se mostra pura, venturosa (ao apresentar-se metaforicamente de branco – branco como metáfora de pureza) e que busca postular (requerer) um cargo: o de Miss Cidade, neste caso.
- Sobre ser ‘miss’: Como todos devem saber a palavra ‘miss’ é inglesa e significa ‘mulher jovem’ (uma maneira polida de se dirigir à pessoa (young woman) quando não se sabe seu nome – conferir o dicionário de papel Longman) – e, claro, é usado como título antes do nome de uma mulher que represente um país, estado ou cidade em algum concurso de beleza: tornada miss, a mulher é ‘rainha’ e tem seu reinado...
- Uma advertência: este texto é apenas uma primeira aproximação ao tema. Contém os insights iniciais que podem nos ajudar a abrir caminho para reflexões mais profundas e acertadas que as que eu vos apresento. É a minha perspectiva de análise e que está sujeita aos limites das esquinas da minha miopia por ser homem heterossexual de estereótipo branco. Minha intenção é levantar o tema para que outras pessoas com condições sociais diversas da minha (e, portanto, outros pontos de vista) possam com esse texto (comigo...) dialogar, complementar, aprofundar, contrapor.
- Para abrirmos nossas análises, preciso, no esforço de síntese de um único parágrafo, dizer o que entendo por Machismo Estrutural: é a construção, a organização, a disposição e a ordem dos elementos que compõe o corpo social, dando sustentação à dominação masculina, branca, heterossexual (entre outros atributos), em detrimento da condição autônoma da mulher e de todos os gêneros que escapem a qualquer classificação binária na sociedade e em seus aspectos subjetivos (esquemas de estruturação mental, de pensamento, sentimento e ação) (vide meu texto sobre isso no blog).
- A estrutura machista condiciona (mas não determina) a sociedade e o conjunto das interrelações sociais em nossa cultura. É um discurso (mas, não é ‘apenas’ um discurso) que diz sobre nossos costumes, nossas ideias como as de família, de comportamentos ideais para cada gênero, o humor e as ofensas; a ordem jurídica, a mídia, a segurança pública, entre tantos outros temas do âmbito social. A estrutura machista é construída por um discurso e como todo discurso constrói as identidades sociais, as relações sociais e os sistemas de conhecimento/crença. Sei que essa definição é breve e mostra-se insuficiente para um estudo mais detido, mas por hora, ela nos ajudará a ler melhor a estrutura deste discurso que é o edital do concurso de Miss.
Como temos bastante material, eu vou apenas comentar alguns pontos e levantar algumas questões. Fique à vontade para elaborar suas próprias reflexões sobre o tema, algo que, aliás, eu recomendo, pois esse concurso é muito bem visto em expressivas parcelas do senso comum e é, justamente por isso que ele merece estudo crítico detido. Vamos conhecer então, algumas das orientações e condições impostas às candidatas, para que possam se inscrever no concurso:
- A candidata, por ocasião de seu nascimento, deverá ser ‘registrada originalmente sexo feminino’ – há algum tempo, esse ‘originalmente’ nem nos chamaria a atenção (provavelmente nem fosse escrito), mas hoje em dia ele levanta a questão da ideia de que os idealizadores do concurso entendem que sexo e gênero são coincidências naturais... Hoje já sabemos (alguns de nós podem até negar), mas já sabemos que as instâncias sexo e gênero não são gêmeas siamesas e nada tem de ‘natural’, antes são construções sociais – portanto, o edital tem uma concepção biologizante do que é SER MULHER. Quando as mulheres trans poderão mostrar sua beleza?
- Ter, no máximo 25 anos de idade, não podendo ter 26 anos completos até a data do concurso (Não ser emancipada) – este dado está em perfeita conformidade com a ideia de ‘miss’ – pois senão seria um concurso de Mrs. – mas, o que perguntamos é: Por quê? Por que as candidatas têm que ser jovens? Qual é a importância do capital-juventude para a Miss Cidade? Aqui, podemos ler uma exigência machista que oprime a mulher, aprisionando-a em seu papel de objeto patriarcal com relação à sua idade: se mais velha é, emancipa-se, mas não pode participar do concurso que o patriarcado elege, justifica e legitima o que ele entende como a mulher que pode representar a BELEZA FEMININA. Trocando em miúdos: o padrão de beleza estruturado pelo patriarcado mostra como variável primeira: o capital-juventude. Quando as mulheres com idade superior a 25 anos poderão mostrar sua beleza?
- Não ser e nunca ter sido casada, não ter tido casamento anulado, não conviver maritalmente – mantendo a mulher na condição da possibilidade de objeto a ser desejado – enquanto exibe seu corpo e dotes físicos (por que desfile de maiô?) para os avaliadores – a mulher, literalmente, não pode ‘ter proprietário’, ou seja, ser casada com um homem que detenha poderes exclusivos sobre ela (não é essa a ideia do patriarcado sobre o casamento? A de que a mulher é propriedade do marido?); podemos perceber que essa condição coloca a mulher na posição de objeto privado de seus maridos e isso inviabiliza sua participação no concurso. Quando as mulheres casadas poderão mostrar sua beleza?
- Não pode ser mãe, nem estar grávida – ‘ser mãe’ é algo ‘sagrado’ para o machismo estrutural: nesta cultura, o fato de parir isola a mulher de sua sexualidade e de sua sensualidade: como poderia uma ‘miss’ ser mãe ou uma mãe ser ‘miss’? Seria uma contradição em termos: ao passar para a categoria ‘mãe’, a mulher transforma-se de objeto de desejo de posse para o sacrossanto lugar de imaculada (sob a ótica da sociedade patriarcal e seus valores). Estando grávida, uma mulher não será mais objeto do desejo machista – ao menos não explicitamente: controla-se assim a sexualidade feminina. Quando as mulheres grávidas poderão mostrar sua beleza?
- Gozar de boa saúde física e mental, ser simpática e cooperativa: adjetivos e mais adjetivos que vão aos poucos qualificando quem são as mulheres que o patriarcado vai conceder (vejam bem...) vai conceder o acesso ao concurso... se não for saudável não pode participar – Por quê? O que a doença – dado da natureza humana – tem a ver com a beleza? A candidata deve ter ‘boa saúde mental’ – em nossa sociedade psicótico-paranoica, a saúde mental será um traço a desclassificar todos nós, mas ainda assim: por que se exclui as pessoas com ‘problemas mentais’ (detesto esse termo) da possibilidade de participar de tal concurso? O que se reafirma aqui é a de que a beleza dialoga com a ideia de ‘normalidade’ e as escolhidas para participarem do concurso devem ser – cada vez mais – afuniladas e presas nesses conceitos: para ser miss é preciso estar presa a uma gigante grade de exigências patriarcais... claro, a mulher precisa ser ‘colaborativa’ – arrisco aqui trocar o eufemismo ‘colaborativa’ por ‘submissa’ (um claro disfemismo), e por fim, alguém tem condições de me ajudar e dizer o que é ‘ser simpática’? Quando as mulheres com ‘deficiências físicas ou mentais’ poderão mostrar sua beleza?
- A candidata não pode ter publicado ou realizado nenhum tipo de foto, ensaio, book, ou ainda trabalhos a título de nu artístico ou explicito – uma mulher que tenha publicado esse tipo de material (contendo seu nú) não pode participar do concurso de miss – isso tem a ver com decoro, recato, pudor, dignidade, honradez, seriedade nas maneiras, compostura, decência e conveniência: todos os predicados exigidos da candidata para que possa acessar a glória de ser reconhecida pelo patriarcado como representante de padrão de beleza. Quem publica esse material (nu ou explícito), será que goza duma liberdade inaceitável? Esse item atesta e comprova: o nu feminino é propriedade do patriarcado (claro, isso na cabeça dos moralistas...). A nudez da miss deverá ser imaginada (desfile de maiô), mas não concretizada ao grande público. Quando as mulheres livres poderão mostrar sua beleza?
- No mínimo 1,68 (um metro e sessenta e oito centímetros) de altura; as medidas de corpo devem aproximar–se de 90 cm de quadril, 60 cm de cintura e 90 cm de busto – medidas, medidas, medidas... afinal, o que são medidas? São as dimensões ou quantidades consideradas como normais e desejáveis; a proporção, a regra, a norma (de novo, a norma) – essas medidas são conseguidas a partir de elementos de referência, critérios do valor, das qualidades de alguém; um grau ou alcance – o crítico deverá perguntar: quem define tais critérios? Qual é o corpo ideal (con)formado, (in)formado, (de)formado por tais medidas? De quem é a inteligência e o poder de quem definiu tais medidas? Quais os interesses em se conformar os corpos a tais medidas? Que corpos tais medidas produzem como sendo legítimos e quais são produzidos como invisíveis (sim, pois não poderão nem sequer entrar no concurso)? O que acontece com a autoestima dos corpos que não se encaixam nessas medidas e são rejeitados e descartados antes de concorrer (no concurso e na vida)?
- TATUAGENS: só serão permitidas tatuagens quando estas forem discretas, por exemplo: na nuca, punho, tornozelo – sociologicamente, podemos ler (muito grosseiramente) a tatuagem como um desvio de norma (não ser tatuado é a norma); a pessoa tatuada marca seu próprio corpo, toma ele para si, dele se apossa, nele se justifica e transforma-o no que quer... bom, se a candidata apresentar níveis toleráveis dessa autoapropriação ela poderá participar, desde que seja ‘discreta’ (ou seja, novamente – que se comporte de maneira comedida, prudente; reservada, circunspecta, de pouca intensidade) – sendo assim, poderá vir-a-ser miss, perdão: vir-a-ser candidata a miss...
- Não ter realizado nenhum tipo de intervenção estética – o desejo pela natureza intocada; a afirmação de que o que ali está se mostrando é ‘de verdade’, não é manipulado, é puro, é virgem. Se a estética é a base do concurso (a cada item estamos vendo que não...) então esta beleza deve ser posta em estado bruto, sem manipulações.
- Possuir beleza de rosto e de corpo e ter condições de representar a sua cidade, estado e país – aqui, parece-nos que precisamos de uma reflexão bem profunda para entendermos o que é ‘beleza de rosto e de corpo’ – elemento profundamente subjetivo, mas ao mesmo tempo de apreciação social: resgatando elementos anteriormente apresentados e que vão dando pistas para a noção vaga de beleza aqui solicitada: ser jovem e ser magra (não há exigência explícita para o peso das candidatas – mas façamos as contas levando em consideração as medidas de altura, quadril, cintura e busto – anteriormente apresentadas – e teremos o padrão de peso exigido pelo edital);
- Não ter antecedentes criminais – para esse ponto deixo uma questão: no Brasil, alguém que cometa um crime e por ele pague, pode ser punido com essa restrição? Alguém pode ser impedido de participar de um concurso de beleza, porque no passado roubou ou cometeu algum outro crime? Veja, penso aqui na situação da pessoa que cometeu o crime e por ele pagou... o que o antecedente criminal tem que ver com a beleza? Ou será que, realmente, estamos a falar aqui de um conceito de beleza que invade outras esferas (sempre as trazendo como limitantes) da vida das pessoas, ou melhor dizendo, das mulheres? Cometer um crime e pagar por ele, não libera a pessoa de sua dívida? Por que a miss não pode ter cometido um crime (e por ele ter pago devidamente)? Não será novamente, um critério para restringir a mulher a um espaço que lhe afirma (e lhe nega), que lhe constrói subjetiva e socialmente – será que há uma voz sem corpo que diz: “Para ser miss seu comportamento como mulher tem que ter sido decente desde o dia de seu nascimento e até agora deve ser irretocável. Se erraste no passado – não nos importa se pagaste, já não nos serve mais...” quando as mulheres que erram poderão mostrar sua beleza?
- A candidata não deverá ser vista fumando ou consumindo bebida alcoólica: a miss será exemplo de mulher, exemplo de beleza: todo exemplo tem como função inspirar suas seguidoras. A despeito da ideia de ‘exemplo’ que a futura miss terá que carregar consigo, o não consumo de bebidas ou cigarro marcam novamente uma posição de recato, de moderação e de prudência – elementos que ao lado da beleza (de rosto, de corpo), da ausência de propriedade masculina (não ser casada, não ter filhos) vão compondo os critérios que vão encarcerar o corpo daquela que poderá ser a representante do conceito de beleza imposto pelo Patriarcado.
- Não pode ser vista namorando em público durante o período do concurso e nos eventos. Caso namore, o relacionamento não pode atrapalhar durante o período do concurso e caso seja a vencedora, é proibido levar o namorado como acompanhante em eventos oficiais – idem reflexões anteriores – embora não possa ser casada, a moça pode ter namorado, mas não pode namorar, por assim dizer. E, muito importante quando o edital diz “é proibido levar o namorado como acompanhante” mostra claramente que é de bom tom que a candidata seja heterossexual... Quando as lésbicas ou quaisquer outras sexualidades poderão mostrar suas belezas?
- Deve manter o decoro: o não cumprimento desta clausula resultará em pagamento de multa de R$ 1.000,00 (hum mil reais) = lembrando que ‘decoro’ é recato no comportamento; a decência – elementos fundantes para a condição de uma mulher ser aceita como padrão de beleza pelo patriarcado... não manter o decoro é crime, é o único crime passível de multa efetiva. Os elementos anteriores são todos passíveis de desclassificar nossa heroína. Quando as indecentes, indecorosas, impudicas, namoradeiras, vadias e insubmissas poderão mostrar sua beleza?
Reitero: as leituras aqui são parciais e têm função de dar início ao debate... contribuir com ele. Não pretendem ser verdades, mostram-se antes como perspectivas, especulações que procuram contribuir com o des-velar de dados que o patriarcado imiscui em seus discursos. Discursos esses que, por vezes, parecem ser elogiosos.
- “A vencedora do concurso durante seu 1 (um) ano de reinado, ficará obrigada a participar do evento Estadual São Paulo” – enfim, a mulher eleita será a rainha e para ser rainha da beleza de acordo com os critérios patriarcais, do machismo estrutural de nossa sociedade ela precisa ter se submetido a todas os cerceamentos impostos... mas, terá seu reinado: notemos – durante seu reinado, ela ‘ficará obrigada a’ ... esse é o preço pago por quem ascende ao status de rainha do patriarcado!
- Enfim, vimos como é a construção da mulher-candidata a ser a mais bela da Cidade. Para ser bela, ela precisa ser virtuosa (vimos, igualmente no decorrer deste estudo, que comportamentos ela precisa para ser virtuosa) – beleza e virtude de mãos dadas – Platonismo e Patriarcado de mãos dadas.
- Numa tentativa de síntese dos pontos que apresentamos: A candidata deverá ser mulher, mas numa a concepção biologizante de ser mulher; esta mulher está presa ao capital-juventude, sendo – literalmente – punida com a não possibilidade de participação quando ‘envelhece’. Outras condições anotadas: não pode ser ou ter sido casada, tampouco ter filhos (pois esses dois elementos são conflitantes com a noção de beleza-objeto-sexual que o edital do concurso vai estruturando); as moças-candidatas devem estar nos padrões de normalidade (física e mental) impostos pela sociedade; serem normais (e não loucas...), ‘saudáveis’ e não ‘doentes’; serem recatadas e não exporem a nudez de seus corpos – pois ao fazer, correm o risco de se descobrirem livres; ter o corpo dentro das medidas estipuladas por uma ‘inteligência’ que não é a delas – em síntese: o corpo delas é falado por uma ‘inteligência que lhes é alheia’, é discursivamente construído por meio de um padrão imaginário e elas que se encaixem nesse padrão – fora dele não há vida – daí derivará sua beleza e a aceitação social que lhe advém; não podem se tatuar, nem terem realizado intervenção estética (assumir o controle do corpo e nele deixar marcas perenes). As candidatas, para serem realmente cândidas não podem ter antecedentes criminais, mesmo que já tenham pago suas ‘dívidas’ com a sociedade – afinal o edital não abre nenhuma exceção em seu texto sobre algum atenuante. Não podem fumar ou beber em público, nada que possa macular sua condição de bela, recata e do lar. Se ter namorado não é ostensivamente proibido, exibir-se ao lado dele (ou dela) é proibido (aliás, como vimos, “é proibido levar o namorado como acompanhante” mostra claramente que é de bom tom que a candidata seja heterossexual). Por fim, quebrar o decoro, o pudor é passível de punição financeira na forma de multa.
- Por que, perguntamos, corpos fora das medidas (altos ou baixos ‘demais’ ou gordos ‘demais’), os corpos maternos, casados, criminosos, tatuados, desvairados, os corpos trans-desviantes-da-norma-imposta são – via os critérios ‘justos’ e ‘imparciais’ do edital – eliminados da possibilidade de competir para mostrar a sua beleza? Haverá a necessidade de se criar “Concursos de Miss” adjetivados? (Adjetivando o concurso como ‘Miss trans-’, ‘Miss plus size’, Miss necessidades especiais, entre outros exemplos, não se reforça que a ‘normalidade’ não precisa de adjetivos?)
- Que beleza é essa que o concurso quer mostrar? Que metonímia da beleza humana querem todas essas regras produzir?
- Por que deve haver tamanha docilização do corpo da mulher para que ela possa acessar o concurso de miss e representar a beleza socialmente aceita? (Notem, não é nem ganhar o concurso de miss... as condições aqui – brevemente – analisadas, são algumas condições de acesso ao concurso)
- Se você gostou do texto, comente. Se não gostou, comente também: de maneira educada, argumentativa – assim, eu tenho a certeza, posso aprender com seus comentários...