Autoconhecimento e autocuidado na vida docente: quem cuida do cuidador?

Autoconhecimento e autocuidado na vida docente: quem cuida do cuidador?

22/02/2019
Em 15-02-19, estive no SENAC unidade Marí­lia, num encontro com dois grupos de docentes e colaboradores da unidade, batendo um papo sobre o Autoconhecimento e autocuidado na vida docente. A metodologia utilizada nas atividades foram os Diálogos de Sab

Autoconhecimento e autocuidado na vida docente: quem cuida do cuidador?

Prof. Dr. Helio Hintze

Em 15-02-19, estive no SENAC unidade Marília, num encontro com dois grupos de docentes e colaboradores da unidade, batendo um papo sobre o Autoconhecimento e autocuidado na vida docente. A metodologia utilizada nas atividades foram os “Diálogos de Saberes”.

Na abertura, falamos sobre a Pedagogia da Esperança que norteia os trabalhos da Fazer Pensar – Usina do Conhecimento, a partir de minhas ações educativas e de formação de educadores. É a esperança que deve nos mover na direção de buscarmos um mundo melhor para podermos (con)viver. Importante notar que conviver é ‘viver com’... e, que nossa vida é sempre partilhada com o Outro. Questão interessante, especialmente, se vamos falar sobre Autoconhecimento e Autocuidado... pois o prefixo auto- remete-nos a um ‘cuidar e conhecer a si mesmo’ – aparentemente, não é cuidar e conhecer o outro... mas isso, é uma questão que permeou todo o encontro. A frase de Morin “Esperança não significa uma promessa. Esperança significa um caminho, uma possibilidade, um perigo” norteia meu ponto de vista sobre a diferença entre esperançar e o ‘mero’ esperar... esperançar exige ação, e a ação docente está prenhe de Esperança!

Na sequência, apresentamos a ideia de uma Pedagogia da Incerteza, pois nosso tempo nos traz mais incertezas que certezas e, esta condição – quer queiramos ou não – atravessa a sala de aula e a prática docente. Incertezas ambientais, sociais, profissionais são o cotidiano dos habitantes deste século XXI – novamente: quer queiramos ou não! Freire nos convida a refletir sobre isso: “Uma das condições necessárias a pensar certo é não estar demasiadamente certos de nossas certezas”. A contemporaneidade é rica em informações, mas essa ‘riqueza’ chega a nos atrapalhar, além de seu próprio excesso, quando não sabemos mais sobre a confiabilidade das fontes de nossas informações. Hoje abundantes, mas rasas em sua grande e expressiva maioria. O ato educativo deve colocar a atenção crítica a essa fantástica avalanche de informações que temos que receber, triar, escolher, e usar – a pressão é muito grande.

Portanto, a tarefa docente é extremamente importante e, por conseguinte, desgastante nos dias atuais. O docente cuida do aprendizado de seus discentes, mas que é que cuida de nós educadores?

Como reflexão inicial, convidamos presentes a pensarem na frase de Foucault:

 

“Ocupar-se consigo não é pois, uma simples preparação momentânea para a vida;

é uma forma de vida”.

 

Além desse convite, apresentamos algumas questões que iriam nortear todos os encontros:

O que é autocuidado? Ou o ‘cuidado de si’?

O que é autoconhecimento?

Como estão relacionados Autoconhecimento e Autocuidado?

São subordinados um ao outro, ou vice-versa?

O que ambos têm a ver com a Pedagogia da Autonomia?

Quais os desafios, possibilidades e limites que se nos apresentam para nos conhecermos e cuidarmos de nós mesmos?

Quais são os campos de nossa vida que constituem esse conhecimento / cuidado?

 

Sim, muitas questões – como próprio título do encontro traz em si uma questão (“quem cuida do cuidador?”) a ideia era a de produzir perguntas, pois são elas que movem o pensamento, que nos desafia, a aprender. As perguntas sempre iniciam os Diálogos de Saberes por nós promovidos.

Iniciado o bate papo com todos os presentes – a partir das perguntas norteadoras – pudemos ter uma conversar muito frutífera com ambos os grupos. Muitos temas surgiram.

Autoconhecimento para o autocuidado, a negociação com as ‘receitas’ prontas e a busca pela receita própria... foi assim que começamos os diálogos. Qual é o ponto de equilíbrio? Quais os limites? Conhecemos nossos limites? Perguntam os docentes no diálogo. Perguntas que são feitas ao grupo, mas que são feitas a nós mesmos e cada um de nós terá uma resposta singular.

Tensões foram surgindo, no sentido de qual decisão tomar entre pares de ideias como ‘egoísmo’ e ‘altruísmo’, entre liberdade e responsabilidade, entre excessos e faltas...

O reconhecimento de nossos limites pode nos trazer mais humildade? Reconhecer limites pode nos ajudar a respeitá-los e a confrontá-los... surge aí nova tensão que deveremos decidir!!!

Temas como moralidade e coletividade também participaram dos diálogos, pois é fundamental que nos posicionemos frente a tais questões; elas são de nós exigidas... A tensão entre “autonomia” e “liberdade” nos levou a questionar nossas diversas dependências. No centro de tudo isso, a ‘decisão’ é sempre nossa. Sendo ‘existencialista’ – a decisão é o centro de nossa liberdade e, neste sentido, estamos ‘condenados’ a sermos livres.

Qual a exata media que devemos tomar em nossas decisões? Questão de primeira linha na Ética e, sem uma resposta padrão... sempre haveremos que pesar as variáveis para que possamos decidir... será que sempre dá para fazermos isso?

Falamos sobre a Constelação do prefixo auto-, a qual comporta muitos termos: Autoconhecimento, Autocrítica, Autodeterminação, Autossuperação, Autonomia, Autoanálise, Autoestima, Autovalorização. Autocuidado: com o corpo (saúde, estética), com o intelecto: a questão da reflexão; com a alimentação: comemos bem? Comemos o que queremos/podemos/devemos? Por que não comemos? O que nos falta para comermos bem?; Com o sono; Com as relações com outras pessoas (novamente a tensão entre egocentrismo e altruísmo); Na relação com a tecnologia, com as drogas, etc. Aliás, a questão das drogas levantou pontos importantes para nosso aprendizado: com o uso de ‘drogas’ há um ponto em que deixamos o âmbito da ‘autonomia’ e tornamo-nos ‘heterônomos’, ou seja, é a droga quem decide por nós... aí perdemos o autocontrole... começam problemas muito graves. E, importante notar que por drogas entendemos tudo aquilo que nos faz compensar algum vazio, o álcool, os tabacos, a tecnologia dos celulares, da internet, a academia, a igreja, o café.... os jogos de azar... muitas são as potencias drogas que nos convidam a sairmos da condição de autônomos.

Nestas atividades, eu muito aprendo, no diálogo com meus colegas  que estão lá a viver os desafios da sala de aula. A todos os presentes eu agradeço!!!

 

Prof. Dr. Helio Hintze

Educador e Filósofo



por Helio Hinze
Helio Hinze

Educador e Filósofo / Palestrante e Consultor do Projeto Fazer Pensar da Usina do Conhecimento Educador do Projeto Sabores & Saberes: Educação para o Gosto Consultor Associado GKS Consultoria Atuou como Professor Universitário em diversas Universidades: UFSCAR - Sorocaba, UNIMEP Piracicaba, SENAC, Uniararas