As Facetas Turísticas da Vulnerabilidade

As Facetas Turísticas da Vulnerabilidade

10/08/2018
O "turismo" é encontro de pessoas e a ética (reflexão sobre a convivência) é central ao turismo. Quando dois ou mais seres humanos se encontram...

O ‘turismo’ é encontro de pessoas e a Ética (reflexão sobre a convivência) é central ao turismo. Quando dois ou mais seres humanos se encontram, ergue-se a possibilidade da ‘hospitalidade’ (em sua etimologia: a ‘condição de estrangeiro’, a ‘condição de ser o outro’) ou de sua transgressão.

Os encontros turísticos são assimétricos, marcados por relações desiguais de poder entre aqueles que desejam e podem viajar, aqueles que trabalham ou que vivem nas comunidades nos destinos procurados. Portanto, urge falarmos sobre os ‘direitos’ dos seres humanos que, historicamente, têm sido relegados às vulnerabilidades nas relações que travam em suas vidas, em especial, quando estas são tocadas pelo turismo.

O turismo é alardeado como vetor de desenvolvimento pelas forças neoliberais que o moldam à sua imagem; tem suas raízes e desenvolvimento apoiados num tripé: o Ocidente, a Modernidade e o Capitalismo. Tríade esta marcada por um elemento mais basal: o Patriarcado branco, heterossexual e cristão. Portanto, tendo como base o sistema patriarcal, o turismo é estruturalmente marcado por uma assimetria de fundo: a dicotomia entre colonizadores e colonizados. Assimetria naturalizada nos três elementos constitutivos da ‘realidade’: espaço, tempo e linguagem e reproduzida em diversas outras assimetrias, (re)produzindo privilégios para uns e não para outros.

Entre as incontáveis vulnerabilidades, ‘gênero’ e ‘raça’ permeiam o desenvolvimento turístico de forma viral; os estereótipos do lado fraco das assimetrias modernas são materia prima para o turismo hegemônico, produzidas como atrativos turísticos (ou mão de obra), distribuídas e consumidas como mercadoria em sua lógica. 

O estudo crítico do turismo dá seus primeiros passos e enfrenta a ‘profunda superficialidade’ dos estudos hegemônicos regidos pelo mercado e por quem dele se utiliza como exercício de poder. Quanto mais criticamente analisamos o turismo, mais percebemos que ele é uma estrutura de dependências e de (re)produção de vulnerabilidades. É necessário desvelar os mecanismos que as constroem e discutir as responsabilidades de cada agente do turismo nesse panorama.



por Helio Hinze
Helio Hinze

Educador e Filósofo / Palestrante e Consultor do Projeto Fazer Pensar da Usina do Conhecimento Educador do Projeto Sabores & Saberes: Educação para o Gosto Consultor Associado GKS Consultoria Atuou como Professor Universitário em diversas Universidades: UFSCAR - Sorocaba, UNIMEP Piracicaba, SENAC, Uniararas